Começo

"Eu tenho que te confessar uma coisa..." sua voz quase que ecoava pela salinha. Havia uma certa seriedade expressa tanto em sua face quanto no seu tom.

Eu o encarei arqueando minhas sobrancelhas. "O que foi?"

Ele não me olhava, mas ao invés, observava os pisos brancos do chão. Ficou em silêncio por alguns instantes, como se estivesse pensando cuidadosamente no que dizer, palavra por palavra.

Não consegui esperar ele falar. Me aproximei e toquei-lhe o ombro, apertando de leve. Tentei falar no meu tom de voz mais gentil. "Vamos, o que aconteceu? Você sabe que pode me falar qualquer coisa."

Minhas palavras o fizeram olhar para um lado oposto ao meu. "Eu sei... É só que, eu..."

Eu o observei enquanto algumas lágrimas desciam dos seus olhos, e ele tentava com todo esforço do mundo não desmoronar. Não pensei duas vezes: com ambas as mãos sobre os ombros dele, o puxei para mim e o abracei forte sem lhe dizer nada.

Senti ele tremer, e também suas mãos fazerem punhos na minha jaqueta. Eu sorri. "Calma, vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você agora. Não precisa se preocupar."

"Me desculpa!" ele gritou e ao mesmo tempo sussurrou, provocando um efeito estranho com sua voz. "Eu... Eu...!"

De certa forma eu já sabia do que se tratava. Ele ia me dizer que esteve me traindo desde há algum tempo atrás.

"Eu não mereço ter você na minha vida...! Eu mereço morrer! Eu sou horrível!" ele tenta cobrir a vergonha que sente com as mãos no rosto.

Eu fico em silêncio. Nada que eu fale fará ele se sentir melhor neste momento...

"Você precisa saber!" ele se afasta e me olha nos olhos, lágrimas caindo. "Eu-"

Eu não aguento mais. O calo com minha boca, e posso sentir que meu gesto o surpreendeu. Não importa o que ele diga ou faça, o que eu sinto por ele é mais forte.

Depois de algum tempo eu me afasto e sorrio para ele. "Eu sei. De tudo. Você é um péssimo mentiroso sabia?"

Ele me olha com aqueles olhos grandes e emotivos, e pressiona o punho contra seu peito. "Você... sabia? Desde quando?"

Fecho os olhos, e olho para o lado. "Quando? Acho que desde o começo. Por mais que você tente," e eu torno a olhá-lo, "você não consegue esconder nada de mim."

Ele quem evita o meu olhar agora. "...mas mesmo assim, você..." Fecha os olhos, mas não consegue manter as lágrimas de caírem. Me olha desesperado. "Se você sabia, então por que você...?!"

"Por que?" eu honestamente não consigo compreender a pergunta. Então sorrio de novo para ele. "Você sabe a resposta dessa pergunta, não sabe?"

Eu o abraço forte e sussurro a verdade no seu ouvido, sentindo ele tremer nos meus braços. Ele se segura forte na minha jaqueta de novo.

"Desde o começo, você...!" ele desaba aos poucos.

Mas eu sei a verdade. Ele não pode retribuir o que eu sinto. É por isso que ele chora. Porque, de certa forma, eu sou importante para ele, "não é?" Eu o afasto de mim e acaricio seu rosto.

Ele não suporta mais, e cai lentamente ao chão. "Perdoa... Me perdoa!" E cobre o rosto, novamente.

Eu o observo quebrar lentamente e sorrio para mim mesmo. Pego minha chave, e caminho até a porta. Antes, lanço um olhar até ele. Ele está gritando agora, enquanto bate forte no chão com as mãos. Eu sorrio para mim mesmo de novo.

"Isso é tudo que eu posso fazer. Não precisa se preocupar mais com nada. Mas saiba que o que eu te disse sempre foi, e sempre será a mais pura verdade." E com essas palavras eu me viro e caminho pela porta.

Nunca mais verei o seu sorriso de novo. Adeus.

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