Fleur II

É um paradoxo, realmente
A verdade é esta, sem dúvidas
Ela não se recusa a falar, pelo contrário
Ninguém poderia de fato calá-la para sempre

Ela observa as fendas que os espinhos deixaram
Na pele tão branca quanto o frio mármore
E ri daquela pobre criatura que um dia fora humana
Como o cruel Destino ri das tragédias alheias

A mudança é constante; sempre nunca é igual
Mas não se trata de "mudança" por assim dizer
Lúcifer poderia entender o seu estado, ou talvez condená-lo
Quem sabe? Talvez ela realmente exista

O corpo agora se desfaz ao longe
O som é de um milhão de cacos de vidro quebrando
A queda é de uma altura considerável
Não, a verdade é que não há queda, pois não há chão

Ela flutua sob o abismo da sua consciência
E ela espera que Deus queime sob mil sóis
Tanta profanação vinda de uma só voz
Será possível isso, Hypnos? Será possível?

"Faça-me uma torre, uma com muitas janelas
Para que eu possa pendurar os meus cabelos de aço
Para que as pessoas venham me resgatar, mas é claro
Que, quando elas, enfim, subirem, eu as devorarei!"

E assim ela sonha com o fim da existência
A sua própria ela já nega há muitos Dezembros
Não há mais nada que lhe resta além da adorável escuridão que a cerca
E da neve que se demora a cair novamente pelo ar